ACERN ESPORTES
29 DE NOVEMBRO DE 2017
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Tragédia com avião da Chape completa
um ano relembre os fatos
um ano relembre os fatos
Faltavam dois minutos
para as 22h (horário local) do dia 28 de novembro de 2016 quando o voo 2933 da
empresa boliviana LaMia caiu no morro El Gordo, a 35 quilômetros do aeroporto
de Medellin, na Colômbia. A bordo, estavam 77 passageiros de um voo charter
contratado pela Associação Chapecoense de Futebol, o clube de Chapecó (SC). A
equipe do interior do estado catarinense acabava de realizar uma façanha: ia
disputar a final da Copa Sul Americana contra o Atlético Nacional, de Medellin.
A partida seria disputada no dia seguinte, no primeiro jogo pelo título.
A alegria dos jogadores,
da comissão técnica, e dos jornalistas a bordo deu lugar ao horror. Na
escuridão da noite o avião bateu de barriga no alto do morro, capotou e se
despedaçou encosta a baixo, deixando um rastro de destruição.
Quando as equipes dos
bombeiros voluntários da cidade de La Unión conseguiram chegar ao local quase
uma hora depois, apenas sete pessoas ainda estava vivas. Três eram jogadores do
time: o goleiro Jackson Follman, o zagueiro Helio Zampier Neto e o lateral Alan
Ruschel. Dos 20 jornalistas, apenas o locutor da Radio Oeste de Chapecó, Rafael
Renzi, estava vivo. Os outros dois sobreviventes eram tripulantes: a comissária
de bordo Ximena Suárez e o técnico de voo Erwin Tumiri. O sétimo passageiro
encontrado com vida era o goleiro principal Marcos Danilo Padilha, que chegou a
ser encaminhado para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu no
dia seguinte.
Equipes de resgate trabalharam no resgate de vítimas entre os destroços do avião |
Um
piloto perdido
Minutos antes da queda,
o piloto Miguel Quiroga avisou a torre de controle do aeroporto de Rio Negro
que estava com problemas elétricos e pediu as coordenadas para um pouso de
emergência. O avião estava a menos de cinco minutos da cabeceira da pista, mas
no dramático diálogo com a torre ficou gravada a desorientação de Quiroga. Ele
parecia não saber ao certo sua posição e não entendia as instruções da
controladora Yaneth Molina que, por sua vez, não conseguia ver a aeronave no
radar. Quando finalmente Quiroga admitiu que estava sem combustível, a torre perdeu
o contato.
Avisada por moradores
que ouviram o barulho da queda, a Polícia Nacional da Colômbia acionou o
modesto grupamento de bombeiros voluntários de La Unión que, em pouco mais de
meia hora, conseguiram chegar ao Cerro El Gordo e iniciaram a busca por
sobreviventes.
Um
plano de voo errado
Enquanto as equipes de
resgate vasculhavam os destroços em busca de sobreviventes, as autoridades
aeronáuticas no Brasil, na Colômbia e na Bolívia começavam a procurar respostas
para as circunstâncias do acidente. E as primeiras informações vindas da
Bolívia, de onde o voo 2933 havia decolado, eram desconcertantes.
O avião tinha saído do
aeroporto de Santa Cruz de la Sierra com um plano de voo que, segundo a
funcionária da Administração de Aeroportos e Serviços Auxiliares de Navegação
Aérea (AASANA), Celia Castedo, "estava errado". Os valores do tempo
de voo até Medellin – 4 horas e 22 minutos - eram exatamente os mesmos valores
da autonomia de combustível. Isso não dava a margem de segurança necessária
para uma situação inesperada. Celia assegura que avisou o problema ao
despachante da LaMia, que morreu no acidente.
Em seu depoimento ela
disse que ele ignorou o aviso e o avião decolou. Celia, que pediu abrigo ao
governo brasileiro, ainda se defende da acusação de homicídio culposo na
Justiça boliviana. E se justifica: “Minha função era apenas checar o
preenchimento do plano de voo e avisar sobre alguma irregularidade, mas eu não
tinha autoridade para impedir a decolagem”.
Para os investigadores
do acidente, o avião não poderia jamais ter levantado voo. E isso deixava uma
nova pergunta sem resposta: por que o piloto havia decidido voar diretamente
para Medellin, no limite de segurança do combustível, se podia ter feito uma escala
para abastecimento?
E
uma companhia aérea suspeita
O Avro RJ85 é um avião
equipado com quatro motores que lhe dão uma autonomia de voo de até 3 mil
quilômetros, segundo dados da fabricante British Aerospace. Pode transportar
com segurança até 112 passageiros e nove tripulantes. O aparelho tinha sido
fabricado em 1999 e comprado por uma empresa americana que o vendeu em 2007
para a City Jet, uma companhia irlandesa de linhas regionais.
Em 2013 o avião foi
vendido para a LaMia (Línea Aérea Merideña Internacional de Aviación), uma
empresa regional fundada em 2010 na Venezuela pelo empresário Ricardo Albacete
Vidal. Antes de ingressar no ramo da aviação civil, Albacete teve empresas nos
setores metalúrgicos e petrolíferos e sempre esteve envolvido em política,
chegando a ser senador. Ele convidou o lobista chinês Sam Pa, para se associar
à LaMia, mas não foi um bom negócio: em 2011 Sam Pa foi preso na China e
Albacete dissolveu a empresa.
A LaMia ressurgiu em
2013, com o nome de Línea Aerea Margarita, mas usando o mesmo logotipo e com
foco em voos internacionais. Sua estratégia para conquistar o mercado foi
agressiva, oferecendo preços até 40% mais baratos do que a concorrência. Assim,
a nova empresa acabou atraindo uma clientela muito lucrativa: os times de
futebol que viajavam pelo continente durante os campeonatos. Informalmente, a
LaMia passou a ser a transportadora preferida da Confederação Sul Americana de
Futebol (Conmebol).
Quando o voo 2933 caiu
na Colômbia, Albacete negou que o avião fosse da sua LaMia, que teria arrendado
seus aviões para a LaMia boliviana. O que ele não mencionou foi que a LaMia
boliviana tinha sido criada por ele mesmo, em sociedade com o piloto Miguel
Quiroga, que comandava o fatídico voo.
Os
jogadores que sobreviveram
O goleiro Jackson
Follman, primeiro sobrevivente a ser resgatado dos escombros, não se lembra
exatamente o que aconteceu. Tudo que ele recorda é que estava sentado perto dos
três companheiros que sobreviveram com ele, o zagueiro Neto, o lateral Alan e o
jornalista Rafael Renzi e todos estavam conversando animadamente. Então as
luzes da cabine se apagaram e ele desmaiou.
Follman costuma dizer,
em entrevistas, que se deu conta de que o avião tinha caído quando voltou a si
na escuridão total, no meio dos destroços. E pensou: “O avião caiu. Todo mundo
se salvou. Estão todos vivos”. Ao ver os focos das lanternas dos bombeiros no
meio da mata, Follman reuniu forças para gritar por socorro. Levado de
helicóptero ao hospital, ele teve parte da perna direita amputada. Em longas
cirurgias, os médicos conseguiram reconstruir o calcanhar do pé esquerdo e uma
vértebra cervical que, por sorte, não atingiu a medula.
O lateral Alan Ruschel
também estava muito ferido e foi levado ao hospital de caminhonete, por dois
moradores de La Unión. Embora estivesse consciente o tempo todo, Alan tinha um
problema grave: uma fratura na coluna que poderia deixá-lo tetraplégico. Mas,
nas horas seguintes, os médicos do Hospital San Vicente descartaram o risco.
O zagueiro Helio Neto
ficou sete horas nos escombros e foi o último a ser resgatado. Os socorristas
já tinham desistido de encontrar mais sobreviventes quando um deles ouviu
gemidos e voltou para localizar o chamado. No entanto, seu estado era tão
crítico que os médicos chegaram a prevenir seus familiares de que não
alimentassem muitas esperanças.
Cerimônia em Homenagem às vítimas do acidente com avião da Chapecoense, na Arena Condá |
E
um time que ressuscitou
Quando a notícia chegou
a Chapecó, já na madrugada do dia 29, os 200 mil habitantes foram sendo
despertados pelos relatos da tragédia e a cidade mergulhou na dor e no luto. Do
sonho de uma conquista esportiva para o pesadelo inimaginável: os chapecoenses
tinham perdido seus jogadores, seus dirigentes e jornalistas que relatariam a
vitória tão esperada. E só havia um lugar onde eles queriam estar: a Arena
Condá, o estádio do clube.
Na noite de
quarta-feira, quando o time deveria estar jogando em Medellin, os torcedores
lotaram as arquibancadas para chorar, cantar o hino do clube e gritar a saudação
que tinha guardada no peito: “É campeão!”. Simultaneamente, em Medellin,
colombianos lotaram o estádio Atanasio Girardot, onde o jogo contra a
Chapecoense deveria ocorrer, para homenagear o time brasileiro.
O luto de Chapecó se
espalhou pelo Brasil e o mundo. Nas redes sociais, torcedores de equipes
adversárias começaram a pintar de verde os distintivos de seus próprios times e
a frase: “Somos Chape”. Era o início da reação para reconstruir o sonho e o
time.
Virada
A Chapecoense já não
tinha mais um time titular para entrar em campo, uma vez que quase todos os
jogadores morreram no acidente. Nem uma comissão técnica, nem mesmo o
presidente do clube, que morreu no acidente. Mas ali, na Arena Condá, estavam
os jogadores que não tinham viajado para a Colômbia. Neles, a torcida enxergava
a esperança de um recomeço para formar o novo time para a temporada de 2017.
O troféu de Campeão Sul
Americano, entregue à Chapecoense pela Conmebol depois que o Atlético Nacional
decidiu abrir mão do título, não era apenas simbólico. O prêmio pelo título foi
de US$ 2 milhões e a vaga na Recopa rendeu mais US$ 1 milhão. Por ser campeã
sul americana, a Chape garantiu também vaga na Libertadores e mais US$ 1,8 mil
pelos três jogos como mandante de campo.
Arena Condá se tornou ponto de reunião de torcedores, jogadores e parentes das vítimas após o acidente |
Com as finanças
reforçadas, o clube reconstruiu o time e conquistou o título do campeonato
catarinense de 2017. E mesmo depois de ter tropeçado na série A do Brasileirão,
a Chape conseguiu escapar do rebaixamento e continuará em 2018 na principal
divisão do futebol profissional brasileiro.
Uma das maiores emoções
vividas pelo time e sua torcida depois da tragédia foi em agosto deste ano,
quando a equipe pisou no gramado do Nou Camp em Barcelona para um amistoso
contra o time da casa, recebendo a homenagem de um estádio lotado. As imagens dos
jogadores mortos foram projetadas no telão e o ex-goleiro Follman, agora
embaixador do clube, e o zagueiro Helio, deram o chute inicial da partida.
Entre os jogadores
escalados para a partida, estava Alan Ruschel, que os médicos colombianos
temiam que não voltasse a andar. Ele saiu de campo após 35 minutos de jogo, com
a camisa assinada por Messi e a homenagem da torcida. Em Chapecó, o grito da
torcida voltou a ecoar: “O campeão voltou!”.
Fonte: Portal Terra
Fonte: Portal Terra
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